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domingo, 29 de agosto de 2010

A REVOLUÇÃO FARROUPILHA E O BALAÚSTRE 67

Por Francisco Feitosa

Na edição de nº 7 de nossa Revista “Arte Real”, lançada em setembro de 2007, publicamos uma matéria de minha lavra, intitulada “Despertai, Farroupilhas! Despertai!”, um caloroso chamamento ao leitor, elucidando-lhe quanto à origem da mais duradoura Revolução, que a história brasileira já conheceu.

Para tanto, utilizamo-nos da compilação de um parágrafo do famoso “Balaústre 67”.
Também, na oportunidade, enfatizamos o que, e como foi motivada a Revolta dos Farrapos, fazendo analogia com o caótico momento atual que estamos atravessando, principalmente, no meio político, razão de escolhermos esse título.

Afinal, esse tem sido nosso papel: informar com responsabilidade e conscientizar a quem nos acolhe, carinhosamente, a cada edição, nos mais diversos assuntos.

Posteriormente, tivemos acesso, através da Lista de Discussão Maçônica Mestre-Maestro, a uma mensagem de parte do nosso Irmão Dante Cezar Melo Rostirola - Ministro da Cultura e Propaganda do GORGS - filiado às Lojas Simbólicas Inconfidência e Inconfidência II, de São Leopoldo, e meu Confrade na Loja de Pesquisas Francisco Xavier Ferreira, de Porto Alegre, explicitando a origem do famoso Balaústre 67, da Loja Maçônica Philantropia e Liberdade, do Oriente de Porto Alegre-RS, datado, de 18 de setembro de 1835, no qual foram, supostamente, relatados os preparativos para a Revolta, levada a efeito dois dias após.

Segundo nosso Irmão Dante Rostirola, esse Balaústre foi uma composição fictícia do Irmão Dante Bósio, para uma palestra, proferida por ele no Oriente de Camaquã, RS, nos festejos da Semana Farroupilha, há cerca de 15 anos.

A palestra, contendo a inserção nela do Balaústre, imaginado pelo Irmão Bósio, que, na ocasião, chamou a atenção da plateia, iniciando sua fala, mais ou menos assim: "Imaginem o que poderia ter acontecido, se houvesse uma Ata registrando os primórdios da Revolução Farroupilha...".

O original dessa palestra ficou em poder da Loja anfitriã e, segundo nosso Irmão Rostirola, depois de algum tempo, outro Irmão, que editava um Jornal Maçônico, no Rio Grande do Sul, publicou o dito Balaústre em seu jornal, com algumas inserções, ainda mais cavalheirescas, e a estória passou a ser história.

Esse assunto incomoda, até hoje, o Irmão Dante Bósio, atualmente, já bem velhinho e adoentado, que, ainda, guarda uma cópia da referida palestra e da Ata para quem quiser ver, pois é um Maçom de grande conhecimento e teve a melhor das boas intenções, quando a imaginou.

Nosso Irmão Rostirola, assim que teve conhecimento do fato, há cerca de 10 anos, procurou o Irmão Bósio, que, na oportunidade, mostrou-lhe, em cópia carbono, a Palestra apresentada, pois o original, como já foi dito, ficou na Loja Maçônica, existente no Oriente de Camaquã.

Observamos que, se o Rito, praticado na época fosse o Adhonhiramita, ao convertermos sua data para o calendário maçônico vigente, de então, que iniciava, com relação ao calendário gregoriano, no dia 21 de cada mês, encontraremos o vigésimo quarto dia do mês de Elul de 5.835.

Caso o Rito praticado fosse o Francês ou Moderno, iniciando no dia 1º, ainda assim, o mês não corresponderia ao de mês de Tishrei, ou Tirsi, como foi escrito pelo autor, pois o calendário hebraico civil inicia-se no “Rosh Hashaná” (cabeça do ano), após a Lua Nova, que somente ocorreu, naquele ano, no dia 24 de setembro, portanto o mês, ainda, seria Elul e não Tishrei.

Notamos, aqui, um erro de interpretação, lembrando o que ocasionou a escolha do Dia do Maçom em 20 de agosto, quando os Irmãos queriam fazer alusão à mesma data da 14ª Assembléia Geral do GOB, 20º dia do sexto mês (9 de setembro), quando foi proclamada a Independência do Brasil em um Templo Maçônico, mas isso é outro assunto.

Na verdade, a montagem desse Balaústre foi, apenas, para abrilhantar a palestra do valoroso Irmão Dante Bósio, sem a menor intenção de forjar sua autenticidade, fazendo questão de enfatizar esse particular na abertura de sua fala.

O Balaústre original daquela memorável Sessão, de cuja existência não sabemos, talvez, tenha sido extraviado ou sucumbido às chamas, no incêndio do galpão do GOB, quando diversos documentos históricos foram destruídos.

Enfim, um conto, a que somado um ponto, acabou virando história e paradigma da atuação maçônica naquelas escaramuças entre os fazendeiros gaúchos e o governo de então, virando uma revolução e, mais tarde, quando os positivistas precisavam de exemplos contundentes para basear suas ideias modificadoras, uma guerra: a Guerra dos Farrapos.

Einstein já dizia que é mais fácil quebrar o átomo do que um paradigma. E, aqui entre nós, esse é o mais puro exemplo disso: o Balaústre 67.

Há uma década, esse fictício Balaústre circula no meio maçônico. Rostirola, afirma, assim como a Revista Arte Real, que não quer, com isso, menosprezar a atuação maçônica naquele episódio importantíssimo da história do Brasil e, muito menos, desestimular os Irmãos que tomam as linhas, contidas naquela Ata, como guia de sua atuação. Sua intenção, como amante da verdade, é, apenas, colocar à luz da razão esse assunto.

Nosso Irmão Rostirola, afirma, ainda: “Devemos, pois, saber que, também, de uma lenda, de uma estória, poderemos extrair virtuosos ensinamentos para as nossas vidas“.

Parabenizamos nossos Irmãos do passado e miramo-nos em seus exemplos de luta, determinação e restauração dos direitos e da justiça sociais, tão menosprezados por nossos políticos.

Aproveitamos a oportunidade, em que o país submerge em espessa camada de lama, fazendo eco ao chamamento dos Irmãos da Maçonaria Gaúcha, para o protesto contra a corrupção e o descaso de nossos políticos, intitulado “Essa é a Hora – Faça a Sua Parte!”, convocando a população a criar uma corrente de ação nacional, a fim de que, no dia 07 de setembro vindouro, às 17h, una-se em uma Paralisação Nacional.

Não fiquemos às margens como espectadores, e, sim, engajemo-nos nesse protesto contra a total desmoralização política em que se amortalha nosso Brasil.

Miremos o belo exemplo de nossos Irmãos Farroupilhas e mostremos nossa indignação! http://www.estaeahora.cjb.net/
Despertai, povo brasileiro! Despertai, Maçonaria! Despertai Farroupilhas! Res Non Verba!

Para aqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer o fictício e poético Balaústre 67, transcrevemo-lo abaixo, na íntegra, e solicitamos que, antes de repassá-lo aos Irmãos, informem que se trata, apenas, de uma bela Peça de Arquitetura, o que, em nada, desmerece o original, muito menos a bravura de nossos valorosos Irmãos farroupilhas:

“Aos dezoito dias do mês de setembro de 1835 de E\V\e da 5835 V\L\, reunidos em sua sede, situada na Rua da Igreja, nº 67, em lugar Claríssimo, Forte e Terrível aos tiranos, abaixo da abóbada celeste do Zenith, aos 30º Sul e 5º de latitude da América Brasileira, no Vale de Porto Alegre, Província de São Pedro do Rio Grande, nas dependências do Gabinete de Leituras, onde funciona a Loj\ Maç\Philantropia e Liberdade, com o fim de, especificamente, traçarem as metas finais para o início do movimento revolucionário com que seus integrantes pretendem resgatar os brios, os direitos e a dignidade do povo Riograndense, a Sessão foi aberta pelo Ven\Mestre, Ir\ Bento Gonçalves da Silva. Registre-se, a bem da verdade, ainda, as presenças dos IIr\José Mariano de Mattos, ex-Ven\, José Gomes de Vasconcellos Jardim, Pedro Boticário, Vicente da Fontoura, Paulino da Fontoura, Antônio de Souza Neto e Domingos José de Almeida, o qual serviu como secretário e lavrou a presente Ata. Logo de início, o Ven\ Mestre, depois de tecer breves considerações sobre os motivos da presente reunião, de caráter extraordinário, informou a seus pares que o movimento estava prestes a ser desencadeado. A data escolhida é o dia vinte de setembro do corrente, isto é, depois de amanhã. Nessa data, todos nós, em nome do Rio Grande do Sul, nos levantaremos em luta contra o imperialismo que reina no país. Na ocasião, ficou acertada a tomada da capital da província pelas tropas dos IIr\Vasconcellos Jardim e Onofre Pires, que deverão se deslocar desde a localidade de Pedras Brancas, quando avisados. Tanto Vasconcellos Jardim como Onofre Pires, ao serem informados, responderam que estariam a postos, aguardando o momento para agirem. Também se fez ouvir o nobre Ir\Vicente da Fontoura, que sugeriu o máximo cuidado, pois, certamente, o Presidente Braga seria avisado do movimento. O Tronco de Beneficência fez a sua circulação e rendeu a medalha cunhada de 421$000, contados pelo Ir\Tes\Pedro Boticário. Por proposição do Ir\José Mariano de Mattos, o Tronco de Beneficência foi destinado à compra de uma Carta da Alforria de um escravo de meia idade, no valor de 350$000, proposta aceita por unanimidade. Foi realizada poderosa Cadeia de União, em que, pela justiça e grandeza da causa, pois, em nome do povo Riograndense, lutariam pela Liberdade, Igualdade e Humanidade, pediam a força e a proteção do G\A\D\U\ para todos os IIr\e seus companheiros que iriam participar das contendas. Já eram altas horas da madrugada quando os trabalhos foram encerrados, afirmando o Ven\Mestre que todos deveriam confiar nas LL\ do G\A\D\U\. Como ninguém mais quisesse fazer uso da palavra, eu, Domingos José de Almeida, Secretário, tracei o presente Balaústre, a fim de que a história, através dos tempos, possa registrar que um grupo de maçons, homens livres e de bons costumes, empenhou-se com o risco da própria vida, em restabelecer o reconhecimento dos direitos dessa abençoada terra, berço de grandes homens, localizada no extremo Sul de nossa querida Pátria. Oriente de Porto Alegre, aos dezoito dias do mês de setembro de 1835 da E\V\, 18º dia do sexto mês, Tirsi, da V\L\ do ano de 5835. Ir\Domingos José de Almeida – Secretário”.

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